Para nós a dúvida persistirá, em que pensem as evidências sobre a precariedade do acesso ao quartel e as incertezas sobre a estrutura dessa edificação para abrigar dona Joana Luíza de Santa Clara Martins, esposa do capitão, grávida, em uma região, não é difícil imaginar, absolutamente inóspita. É mesmo mais provável que dona Joana tenha se reservado à missão de ser mãe em Caxangá. Contudo, estamos no movediço terreno das conjecturas, dada a inconsistência das fontes documentais.
A bem da verdade, esse detalhe é, sob um determinado ponto de vista, um tanto insignificante perto daquilo que dignifica a biografia de Domingos Martins. Se quisermos, enfim, caminhar para uma solução envolvendo a relação entre Marataízes e aquele que seria, em 2011, inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, podemos afirmar categoricamente que a história de Domingos Martins passa por nosso município, mesmo que indiretamente, em virtude da atuação de seu pai por essas paragens.
Domingos Martins (óleo sobre tela) - s/d |
O que nos interessa de fato é aquilo que Domingos Martins construiu em sua vida. Quando esteve na Europa, a estudo e a trabalho, entrou em contato com as ideias liberais que convulsionavam o "Velho Mundo", fazendo ruir o modelo estamental de sociedade típico dos Estados Nacionais Modernos. Contribuiu decisivamente para a aplicação dessas ideias na Colônia ao voltar para o Brasil e se estabelecer em Recife.
Aliás, hoje, 6 de março, Pernambuco está em festa. A data lembra o bicentenário da Revolução Pernambucana, movimento que contou com Domingos Martins como um dos seus principais expoentes. O governo pernambucano deu início a uma série de eventos para comemorar a Revolução, reforçando seus valores de liberdade, de justiça social e o espírito autonomista dos rebeldes.
"São símbolos e cenários que nos estimulam a estar aqui, em data tão marcante. E certamente nos fazem refletir sobre os legados da Revolução Pernambucana de 1817 que permanecem vivos até hoje. Afirmam-se no espírito autônomo e insubordinado dos pernambucanos, na luta de gerações contra o arbítrio e na defesa do Brasil como nação independente", ressaltou o governador Paulo Câmara.
Em matéria publicada ontem (05), o tradicional "Jornal do Commercio" traçou um breve perfil dos líderes da Revolução Pernambucana. Sobre Domingos Martins, destaca o periódico:
"Durante a Revolução de 1817, era possível ver uma cena singular no Recife: um dos líderes do movimento, Domingos, andava de braços dados com negros e mulatos, concordando quando ouvia que eram todos iguais. Não era pouca ousadia em meio a [uma capitania] ainda escravista e patrimonialista. Aliás, a ousadia era uma marca de Domingos, conhecido por discursos [enérgicos] e sua liderança natural. (...) Era entusiasta dos ideais liberais e talvez o mais radical dos homens da Revolução de 1817. O viajante francês Tollenare (...) reconhecia sua bravura: afirma que [Domingos Martins] mostrara 'grande firmeza de ânimo e caráter'".
A história de Domingos Martins revela um homem que não se prostrou diante das injustiças, levando seus ideais às últimas consequências. Deixou como herança a sua determinação e coragem para enfrentar a realidade que teimava a se prender a um passado. Ao lado de nomes até mais lembrados pela opinião pública, como o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Domingos Martins é personagem inseparável do processo que culminou com a independência política do Brasil, em 1822, e certamente inspirou a luta de outros movimentos políticos e sociais ao longo da nossa história.
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