Não me lembro a primeiro vez que fui a Marataízes, pois ainda não tinha nem um ano. Meu avô materno construiu uma das primeiras casas da praia, na beira do mar, onde hoje é uma extensão do Praia Hotel. Ele adorava dizer: "Marilia, aqui abunda a pita", e soltava uma gostosa gargalhada. Para mim era o Paraíso na Terra! Logo após o Natal, os cachoeirenses, os turistas e a "mineirada" começavam a chegar, e a estação de veraneio durava até depois do carnaval. De manhãzinha corríamos para a praia, quando dava fome era só entrar na casa, pegar um pedaço de pão ou uma banana dos cachos que ficavam pendurados na sala para a criançada (os macaquinhos) e voltar correndo para o mar. À tardinha, na varanda, competíamos para ver quem enxergava primeiro as velas coloridas dos barcos apontarem no alto mar. Quando atracavam, na frente da igrejinha, minha avó corria lá para barganhar com os pescadores os camarões, garoupas, peroás...
Quando morava fora do Brasil, nas horas tristes era só fechar os olhos e imaginar aqueles almoços maravilhosos com a família barulhenta em volta da mesa, saboreando os sururus catados na pedra pelo meu avô, as moquecas, os peroás recheados de farofa apimentada, assados com a pele no fogão à lenha, as melancias, os abacaxis suculentos, as manguinhas carlotinhas, as papas de milho... Lá fora os toque-toques dos tamancos de pau nas calçadas, comemoravam a libertação dos sapatos, e ao fundo o eterno som das ondas quebrando na praia...
Hoje, ao regressar a Marataízes, que tristeza: lá se foi a igrejinha, lá se foi a praia, a pedra que demarcava as marés, os barcos a vela, os cargueiros dos vendedores a cavalo... nossa casa na praia... meu avô, minha avó...
Como diz minha tia Vina: Marataízes deveria chamar "outra coisa", pois aquela não existe mais.