Victor de Moura
O Nordestão em ação! Foto: Marcos Kito |
O morador de Marataízes tem uma relação curiosa com o Nordestão. Por um lado, aquele sopro é detestável! A caminhada à beira mar torna-se impraticável. A poeira sobe, uma densa cortina de barro em pó passeia pelas ruas, cria um tapete na sala e sobre os móveis, e tome areia nos olhos! Mas, vendo os seus benefícios, o vento mais presente na “Pérola Capixaba” é um grande antídoto para o calorão que, vez ou outra, derrete os miolos do maratimba.
Por falar no maratimba, para os mais antigos, o Nordestão é um grande parceiro, já que tem uma função essencial para o seu trabalho: é ele o motor dos botche-a-pano quando se lançam ao mar atrás dos peroás. Sem a brisa, sobra até para Cachoeiro: “vem pelo rio”. “Que isso? (risos) Pelo rio”? “Ham! É o vapor do ‘Caxuero’ que vem na água. Espia só 'procê vê'”, garante o pescador, que se divide entre uma dose de cachaça e uma resmungada à espera do vento para içar a vela improvisada.
Vento Nordeste em Marataízes também é sinal de falta de chuva, que só vem com o “Maral” ou com o Sul. Sinal também de terra seca e de abacaxis menos graúdos. Enquanto os homens vão cedo para a lavoura e lá ficam olhando para o céu a procurar alguma nuvem carregada, as suas senhoras estão em casa, com suas ladainhas, rogando por água do céu enquanto preparam a bóia que, geralmente, sai antes das dez.
Do alto dos seus quase oitenta anos, seu João, trabalhador rural, reclama: “tá uma secura só, moço. Não vai vingar bacaxia não”. “Põe uma irrigação na sua roça, seu João”! “Tá doido, rapaz! A água é só a que ‘deuso’ manda. Esse negócio estraga as fruta”! Então, a gente toma o caminho de volta, comendo aquela poeirada, mesmo sem o Nordestão, acompanhando a reza das senhoras do interior:
“manda água, meu ‘deuso’
manda água qui nóis carece
manda água, meu ‘deuso’
atende as nossa prece”.
Victor de Moura é historiador e Professor de História da Rede Municipal de Ensino de Marataízes.
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