terça-feira, 19 de setembro de 2017

Vai ficar bom. Vai ficar saudade


Falamos aqui sobre como é difícil lidar com a perda dos "lugares de memória" ao tratar do desmanche da antiga lanchonete Mickey. Também já retratamos a famosa "Curva da Barra" antes de ser modificada para dar lugar à rotatória. Hoje é dia de mostrar a Praça da Barra em um dos últimos registros, feitos na semana passada, antes do início da reforma que dará a ela outras características.

Entendemos que as coisas mudam. Nada é para sempre e, definitivamente, não podemos viver aprisionados ao passado. As memórias, as relações afetivas com os espaços, contudo, precisam ser compreendidas e respeitadas. Aí mora um problema.

Há muito a população e comerciantes do local reclamavam pela reforma. É necessária. No entanto, as intervenções nos espaços públicos, via de regra, não são tratadas devidamente com o... público. Assim, ignoram-se pontos importantes e sepultam coleções de memórias. Tudo bem, alguns podem argumentar, nascerão outras. Certamente. Mas e as primeiras ainda vivas?

O chão será revestido com outros materiais e não mais as pedras portuguesas. Algumas árvores com décadas de existência foram arrancadas para que outras preencham a praça. Até mesmo o ar bucólico e histórico do lugar será substituído por um ambiente mais moderno, iluminado, com novos equipamentos que, não nos restam dúvidas, darão a Marataízes um espaço para o exercício do lazer e da sociabilidade importantíssimo. Afinal, como somos carentes desses espaços...

Nada disso parece resolver o problema das memórias, as primeiras, ainda vivas. Precisamos falar sobre isso. Pensar sobre isso. Agir sobre isso. Um local para abrigar as memórias, talvez, ajudaria bastante. Aliás, temos esses locais. Fisicamente.

Vai ficar bom, sim, mas vai ficar também a saudade.

2 comentários:

  1. Um olhar observador permite entrever o quanto a Cidade foi e esta sendo modificada pelas diversas intervenções. Imagens que se sucedem no tempo e no espaço e nos fazem recordar de um passado saudoso.
    Sem estabelecermos juízos de valor com
    relação à necessidade ou não dessa ou daquela reforma, precisamos sim ter o cuidado de preservamos a memória. Talvez uma árvore, um banco, uma parte do piso de pedra portuguesas...nos proporcionaria uma sensação de que ainda pertencemos aquele lugar.

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    1. Pensamos o mesmo, George.
      Via de regra, as memórias afetivas não são levadas em consideração quando da elaboração dos projetos para as - muitas vezes necessárias, diga-se - intervenções urbanas, o que lamentamos bastante.

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