Pierre Nora estabelece uma condição para que determinado local seja chamado de “lugar de memória”. Para o historiador francês, a imaginação, seja ela individual ou coletiva, “o investe de uma aura simbólica”. Esse local, continua Nora, “só entra na categoria se for objeto de um ritual”. Numa tentativa de simplificar o conceito, podemos afirmar que os lugares de memória estão ligados à multiplicação de memórias particulares sobre um mesmo local, sendo este dono de um encantamento próprio, tornando-se uma referência.
Assim definimos o “Mickey”, tradicional casa de lanches do centro de Marataízes. Fundada no início dos anos oitenta, a lanchonete, caracterizada por sua estrutura em madeira, com portas “bang bang”, lembrando os “saloons” do velho oeste dos EUA, fez parte da vida de gerações de frequentadores do balneário. Sem margem para dúvidas, o Mickey marcou época ao lado de outras referências, como a padaria Paulos, as sorveterias Sal e Mel, Guri e Patinhas, o restaurante Gaivota e os já inexistentes Veleiros, Xodó, Boliche e Iate Clube.
Tomados pela surpresa, vimos a casinha do Mickey ser removida na manhã de ontem, segunda-feira, dia 24 de outubro de 2016. Os hóspedes do também tradicionalíssimo hotel Dona Balbina terão uma vizinhança diferente. Olharão para o outro lado da avenida com um aperto no peito. Não verão lá o famoso presépio que, a cada Natal, transformava o Mickey em um local de peregrinação. Não sentirão mais o perfume da indefectível e maravilhosa carne caseira.
Lá se vai mais um “lugar de memória”. Removeram os bancos, as madeiras, as portas bang bang, mas dificilmente removerão as memórias em torno daquele local das pessoas que viveram ou passaram por Marataízes nas últimas três décadas. Movidos por um “sebastianismo” que é só nosso, já esperamos saudosos pelo retorno do Mickey e de tantos outros “lugares de memória” que ajudaram a construir a Pérola Capixaba.
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