Editorial
Fachada principal do Trapiche desabou na madrugada de hoje
Foto:Rubens Borges
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Seis de maio último. Publicávamos aqui um texto com o título “O iminente e indesejável ‘tombamento’”, repercutindo matéria da TV Gazeta Sul sobre o risco representado pelas ruínas do Trapiche, na Barra do Itapemirim. Os restos da construção estavam em vias de desmoronar, podendo causar um acidente de graves proporções. Na ocasião, representantes da administração municipal estiveram no local para executar uma intervenção com o objetivo de conter a parede frontal do edifício.
Aos fatos, então: a tal contenção foi realizada. Em que pesem as boas intenções, hoje sabemos, a ação foi infrutífera. O que restava da fachada do Trapiche desabou nas primeiras horas deste domingo (24) e, felizmente, ninguém ficou ferido (ao menos fisicamente). O imóvel havia sido tombado pelo Conselho Estadual de Cultura desde 1998 (a Resolução 01/98 - CEC foi publicada no Diário Oficial do Estado do Espírito Santo em 17 de abril daquele ano). De lá para cá apenas promessas, discursos e nenhum projeto executivo visando à restauração - ou mesmo uma reforma - com cronograma estabelecido, nada de palpável como o que vimos com o “Palácio das Águias”, tombado através da mesma resolução, que, em 2010, foi entregue pelo Governo do Estado à sociedade para servir de abrigo à Biblioteca Municipal.
Tristeza, claro. Lamentações, muitas. Todas justificáveis, absolutamente compreensíveis. Contudo, entendemos ser inútil abrir uma “caça às bruxas” para crucificar os eventuais culpados pelo crime. Que eles durmam com o moribundo, afinal “Inês é (quase) morta”. Interessa-nos o “day after”, melhor, o “now”. Permiso, Drummond: e agora, Josés?
Fato é que, metaforicamente, a queda da fachada principal do Trapiche simboliza que sucumbimos à doença da sociedade do efêmero, do descartável, que despreza - muito pelo desconhecimento - seu passado e, por conseguinte, dá de ombros para seu patrimônio. E, reparem, falamos aqui apenas da faceta edificada deste patrimônio. Ao contrário das inúmeras iniciativas voltadas para o hoje, sabíamos há muito da tragédia que se abateria sobre o Trapiche, mas não poderíamos adivinhar a data do evento, nem se ele teria cobertura ao vivo por parte da imprensa.
É bom deixar claro que não vivemos num cemitério de ideias. Elas existem e, antes de serem rechaçadas de parte a parte, devem ser valorizadas e, mais importante, articuladas para que sejam colocadas em prática de forma estruturada e orgânica. A depender do caminho escolhido para nossa Cultura, o Trapiche poderá ser lembrado como uma espécie de mártir, aquele que, com sua longa estadia na UTI, parece querer nos avisar: “Acordem, cabrunco! Salvem a História e a memória de Marataízes”!
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